terça-feira, 27 de março de 2012

Sobre animais de estimação

Eu sempre quis ter um pinto. Desde pequeno, queria ter um pinto. Não me entendam mal, mas pra mim o bicho é engraçadinho. Acho até que foi influência da Edna. Edna era uma moça que trabalhava na faxina lá em casa e chocava ovos de galinha no sovaco, uma graciosidade. Lembro-me que ela tinha porte pequeno, fumava e ostentava várias tatuagens pelo corpo. Enfim, o padrão que se procura numa empregada.

A Edna, essa que chocava ovos de galinha no sovaco, morava perto da minha casa, nos fundos do terreno de uma vizinha que tinha um macaco. Você agora pode estar pensando que fui criado em meio a uma tribo massai no Quênia. Não. Este cenário tão absurdo quanto real é a boa e velha Araranguá dos anos 90. Não me recordo com clareza daquele macaco da vizinha, mas ainda sei que o adorava. Pelo que me recordo, o primata teve que ir embora. Houve algum problema com outros vizinhos, uns bananas.

Cresci com animais em casa. Não, não estou falando de meus pais – até porque a adolescência já passou... Lá em casa já tivemos cachorro, gato, peixe e um papagaio criativamente chamado de Louro, um bichinho bacana criado livremente, mas com um vício terrível em tele-sexo. O.k., a parte do tele-sexo é mentira.

Meu pai e eu sempre adoramos animais, especialmente cachorros vira-latas, mas minha mãe nunca foi muito fã. A verdade é que ela não teve experiências boas com os cães que passaram lá por casa, apesar de todos terem sido muito prestativos: recolhiam as roupas do varal, informavam com as unhas que as portas estavam fechadas, defecavam na casa para não sujar o pátio. Até hoje nos perguntamos por que não deu certo.

A minha sogra tem uma cadela muito simpática, a Bilu. A Bilu é uma mistura clássica de Street Dog com Jaguara, coisa mais linda. É a guardiã da casa, desde que não haja fogos de artifício ou chuva, trovões e relâmpagos: nestes casos, é a primeira a abandonar o barco. Encurtando conversa, é uma cagona.

Além da Bilu, minha sogra agora deu pra andar pra cima e pra baixo com uma galinha. A danada já tem até nome: Matilda. Penso eu que a galinha da minha sogra – sem trocadilhos com a família, por favor – é um ser raro da espécie: nunca vi bicha tão feia de magra. Atualmente há uma grande polêmica na casa, pra saber se a Matilda vai ou não parar na panela. A votação continua e a chocadeira já está no paredão: é que montaram um galinheiro pra sem carne ao lado do muro.

O fato é que um animal sempre movimenta o lar e é preciso estar preparado para recebê-lo. A Matilta, por exemplo, tem feito todos acordar às cinco horas da matina por conta do cacarejo. Não que o canto seja muito alto, mas ninguém consegue dormir com a minha sogra caminhando pela casa: é que ela vai até a galinha fazer “shhhhhhhh”. E a Matilda obedece, garante. Viu o trabalho? Pois é. E nem todo mundo tem a consciência, ao comprar um animal, de que aquele bichinho vai precisar de atenção – e que, ao contrário de Jesus Cristo e dos não menos gloriosos Tamagotchi, eles não ressuscitam após os maus tratos.

Aliás, você já parou pra pensar no termo “animal de estimação”? Animal de estimação é todo e qualquer bichinho pelo qual você tenha algum apreço. Não basta apenas ter o animal: é preciso cuidar da criatura. Tem gente com bicho em casa que não tem a mínima estimação pelo infeliz. É o tipo de pessoa no qual – penso eu – não se pode confiar. Lembra da Edna, a empregada do começo da conversa? Ela podia ser meio estabanada, não ter uma aparência exatamente boa, ser aquela mulher que você não colocaria pra limpar a casa pelo estúpido estereótipo que procuramos em todo mundo. Mas a Edna cuidava de seus pintos com estima. E de mim com afeto. Era o que bastava. E você, que é “normal”, o que faria pela vida de um pinto? Responda a si mesmo.

PS: Agora, com vocês... Gugu Liberato!



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 27 de março de 2012.

2 comentários:

  1. Kra, tu é um figura... Muito bom texto e engraçado também. Quando tu falou na cachorra da tua sogra misturada com Jaguara, na hora lembrei da Vó Otilia que chamava eu e o Ney de "seus jaguaras".. Saudades! Continua escrevendo que eu continuo lendo... Grande abraço!(Primo keto)

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    1. Não sabia que a Vó Otilia chamava vocês de jaguara... mas é bom constatar que nada mudou de lá para cá!! rs

      Saudades de todos vocês... Abraços!

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